O corpo humano é cheio de sistemas, alguns nos protegem, outros nos alimentam e mantêm em movimento. Mas, há um sistema que controla todos os demais. E talvez seja o sistema que faz você ser você: o sistema nervoso. Para simplificar, o sistema nervoso percebe o mundo e te diz como reagir a ele. Você pode pular, correr, comer, tremer e chorar. Ele toma todas as decisões imediatamente e igualmente cria emoções, ideias e memórias. De modo geral, ele te diz como agir - é uma máquina incrível que nunca para de reagir.
As memórias são apenas um grupo de neurônios tendo uma conversa íntima. Ao promovermos uma conversa familiar estamos formando memórias cada vez mais fortes. A memória auxilia no cumprimento de determinadas tarefas, nos ajuda a usar nossos músculos, tocar piano ou mesmo amarrar o cadarço de um sapato. Ao aprendermos, podemos ficar muito tempo sem executar tais atividades, quando retornamos a elas, sabemos como fazê-las - é o mesmo que andar de bicicleta.
Se não estivermos atentos ficamos aprisionados em memórias negativas pelo resto da vida, elas têm o poder de travar nosso caminho. Outras memórias, como rostos e nomes, desaparecem com o tempo, conforme os neurônios se esquecem da forma de criar essas conexões. Uma maneira para fortalecer sua memória é ficar atento, a outra é quando há uma forte emoção ligada a ela - de fato, as emoções e o sistema nervoso andam de mãos dadas. O sistema nervoso é responsável não apenas por processar nossas emoções, além disso ele dita como reagimos a elas, às vezes as emoções são tão fortes que sobrecarregam o sistema com ameaças de morte, doenças ou outras consequências.
O medo é um mecanismo de proteção muito poderoso às pessoas. É uma adaptação extremamente eficaz para nos ajudar a perceber uma real ameaça, e é bom conseguir reagir antes que ela nos alcance.
No cérebro existe uma região que controla o instinto do medo. Essa região tem 2,5 cm, o formato de uma amêndoa e se chama amígdala. Quando enfrentamos uma situação perigosa, a amígdala dispara um alarme, o que aciona uma cadeira de eventos. Um coquetel de hormônios percorre o corpo, as pupilas dilatam para receber mais luz, o coração bombeia sangue mais rápido e o sangue vai de órgãos menos essenciais para os de maior prioridade, como os músculos das pernas - as habilitando a chutar ou correr. Por esse motivo, quando você tem medo sente frio na barriga. O fluxo sanguíneo diminui e o estômago é reduzido drasticamente. Eis a causa dos calafrios, pois há menos sangue na pele para mantê-la aquecida. Todas essas mudanças te preparam para reagir à ameaça. Seja ficando paralisado ou fugindo para sobreviver. A antiga reação de lutar ou fugir. No organismo dos humanos sucede de forma parecida com outros organismos. É o que acontece quando você se depara com um perigo repentino ou algo que o assusta.
Mas o perigo é mais complexo do que apenas lutar ou fugir. Quando enfrentamos uma crise, o medo, e como o cérebro o interpreta, podem se tornar a maior ameaça. Às vezes, durante um estresse extremo a reação ao medo assume o controle da mente e do corpo. Ficamos completamente paralisados por nossas emoções. É um fenômeno conhecido como sequestro emocional. As partes do cérebro que usam a lógica e a razão param de funcionar, nenhum sinal as alcança, os impulsos vão direto para a amígdala, que age de forma instintiva e emocional. Com isso, você pode sentir uma explosão injustificada de raiva ou ficar paralisado de medo. Quando o medo vai longe demais se torna a sensação dominante que sentimos como humanos, o que pode impedir novos desafios. Estes desafios são oportunidades que ofertam o potencial de sermos cada vez maiores, possibilitando um campo de expansão consciencial. Mesmo assim, como nosso cérebro reage depende de nós. Temos a faculdade de controlar o medo, tornando-o mais familiar, dessa forma acalmamos os alarmes da amígdala. Somos competentes a ponto de treinar partes do cérebro para ligar e desligar. Há um grande componente de biofeedback, de pensamento e de respiração que estão disponíveis para nos auxiliar. É um treinamento mental.
Assim como somos capazes de aprimorar músculos, velocidade e força com treino, da mesma forma podemos melhorar e fortalecer as emoções. Quando nos expomos em doses pequenas e controladas às coisas que nos estressam, criamos resistência. A tolerância à ansiedade aumenta e a amígdala pode agir a nosso favor. A amígdala é uma bela estrutura, porque é onde muitas memórias, especialmente as emocionais, são armazenadas. Ela guarda não só as lembranças negativas, mas também as positivas. Se treinarmos o cérebro a lembrar como lidamos com o estresse, a amígdala armazenará a memória dessa experiência para uma ocasião futura de medo, e permitirá que a lógica e a razão estejam presentes.
O sistema nervoso tem as ferramentas necessárias para nos manter calmos em situações estressantes. Só é preciso saber como ativá-las.
O sistema nervoso autônomo é dividido em duas partes: O sistema nervoso simpático e o parassimpático. O sistema nervoso simpático é nossa reação de lutar ou fugir. O excesso dessa reação não é bom. É aí que precisamos ativar o sistema nervoso parassimpático, que é o sistema do corpo que ajuda na manutenção: como digerir comida etc. Durante um estresse que ative o sistema nervoso simpático é possível conseguir usar um pouco mais o sistema nervoso parassimpático, da seguinte maneira: dando um passo para trás, acalmando a ansiedade, o estresse, respirando fundo e tentando ficar consciente a respeito da situação, e isso é uma coisa boa. Os estímulos aos quais nos expomos repetidamente acabam se tornando os estímulos que aprendemos a lidar. Ainda estamos descobrindo como o cérebro funciona. O cérebro é feito de peças complexas que trabalham juntas o tempo todo, para fazer tudo o que queremos fazer.
Juntos, o cérebro e a medula espinhal, são o principal centro elétrico do corpo. A fiação que há neles é extremamente delicada. Essas fiações ficam nas camadas ósseas do crânio e das vértebras e estão suspensas em um fluido que absorve o choque. Nenhuma outra parte da nossa biologia tem esse nível de proteção. Por uma boa razão, do mesmo modo como acaba a energia de uma cidade, um sistema nervoso danificado pode causar estragos. E, para o corpo, um apagão significa dor. A dor é um bom sinal. É assim que o sistema nervoso diz que há algo de errado para que você o conserte.
A dor ciática é um sintoma de compressão de um dos maiores nervos do corpo. Nervos não gostam de pressão, nem de ser esticados. Se um nervo for comprimido ou esticado, você vai passar a sentir dor ou pode sentir dormência. A dormência é um sinal de mal funcionamento do organismo, significa que as conexões neurais com o cérebro estão comprometidas. Quando um nervo é ferido, em vez de parar, ele começa a disparar ainda mais, causando sensação de alfinetadas. Por isso, quando alguém bate o cotovelo sente um formigamento no braço todo. Esse ponto do cotovelo não é um osso, é um grupo de nervos. Se apertar no lugar certo vai atingir os nervos, enviando sinais confusos no braço, para cima e para baixo. O mesmo ocorre quando o pé fica dormente, o que não tem a ver com o fluxo sanguíneo, é um nervo comprimido - nos dois casos a sensação desaparece após alguns minutos.
Para aliviar as dores é preciso trabalhar na construção de força. Os músculos fortes ajudam a estabilizar o corpo. O ato de fortalecer os músculos é de muitas formas uma atividade neural. O ideal é associar exercícios aos músculos, faz bem ao coração. Estudos recentes mostram que ao levantar peso nosso sistema nervoso fica mais forte, exercitar os músculos ajuda a treinar determinados estímulos e formar novos neurônios em certas partes do cérebro.
O mundo ao nosso redor está sempre mudando, e como espécie sempre encontramos formas de reagir às mudanças e nos ajustar. O corpo humano é um sistema adaptável e vivo. Cuide bem do seu!
Texto baseado no documentário
CORPO HUMANO: Nosso mundo interior "Reações", disponível na Netflix.
Imagem por Levent Efe
Gratidão Aline 🙏