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O CORPO HUMANO: Sensações


os cinco sentidos

Quando pensamos nos sentidos, normalmente nos lembramos dos cinco conhecidos. Seis, se você acredita. Visão, audição, paladar, tato e olfato. Eles são a base da experiência, da criatividade e até da felicidade, e por algum motivo, costumamos separá-los.


Ver um pôr do sol ou provar um pêssego maduro, duas coisas inspiradoras, mas totalmente diferentes, certo? Bem, não exatamente. O corpo é como uma esponja, absorvendo todas as sensações do mundo ao nosso redor, e quando essas sensações entram pelos nossos olhos, ouvidos e pele, começam a agir juntas. O que aparece é a nossa imagem única da realidade, na qual ficamos completamente imersos.


Nossos sentidos interagem uns com os outros. Nosso sistema sensorial é muito complexo e permite que os estímulos do ambiente sejam convertidos em atividade elétrica que o cérebro e nossa medula espinhal podem processar.


Em todas as células do corpo, mantemos uma pequena bateria com voltagem, seja na ponta dos dedos, nos olhos, nos ouvidos, temos a capacidade de sentir pequenas mudanças no ambiente que criam pequenas mudanças de voltagem.


Uma maior mudança no mundo dos sentidos cria uma modificação na membrana celular. Isso é algo muito bom para a sensação. Por exemplo, o som de uma lâmina cortando gelo vira eletricidade. Temos células especiais, chamadas neurônios, elas transmitem a informação ao cérebro, e ele combina essas informações com outros dados.


Nossa experiência anterior sempre acrescenta à experiência sensorial. Essa informação tem que se integrar rapidamente com todos os outros sentidos.


Além dos cinco sentidos, para agirmos com maestria, precisamos também do sexto sentido, ele pode ser facilmente chamado de propriocepção (em termos simples, é a sensação de onde seu corpo está no espaço). Imagine que há uma via de Mão Dupla de sinais que alcançam áreas do seu corpo que estão longe do cérebro, essas áreas dizem algo para o seu cérebro sobre o estado do seu corpo.


Existem pequenas molas ao redor de fibras especiais, dentro dos músculos, que se esticam quando nos movemos. A direção e a velocidade exatas desse movimento ativam receptores na mola que cria um sinal elétrico. Os receptores enviam a informação para diferentes partes do cérebro, quando o cérebro processa isso, envia informações de volta, como exemplo, ativa os nossos nervos motores para dizer "mexa a mão". Todos nós usamos esse senso constantemente, sem ele você não pegaria um copo, nem tocaria o seu nariz no escuro. Temos receptores mecânicos na pele para o toque físico, e é essa informação que é convertida em atividade elétrica, ela se alimenta através da medula espinhal e chega na parte do cérebro que sente que ocorreu um toque mecânico. No entanto, este sinal também vai para outras partes do cérebro que codificam um aspecto emocional para aquele toque, neste momento o cérebro pode dissociar um toque mecânico e a conectividade emocional desse toque. Essa dualidade nos ajuda a sentir a diferença entre um abraço e um beliscão. De toda forma, existem outras camadas de sutilezas que o toque pode descobrir, só é preciso dedicação para aprendê-las.


Não há dúvidas de que a emoção depende do toque, por isso se chamam "sentimentos". Mas todos os nossos sentidos podem criar reações emocionais, isso tem a ver com a forma como as partes do cérebro se comunicam.


Estamos começando a ter um vislumbre do funcionamento interno do cérebro. Há uma área interessante chamada optogenética, que auxilia a estudar o cérebro, fazendo com que partes dele se iluminem enquanto ele funciona.


Atualmente a ciência está começando a entender como as células do cérebro podem construir nossa experiência emocional do mundo. Um dos gatilhos emocionais mais potentes é o cheiro. Como os sonhos, os cheiros podem revelar coisas que estão enterradas na mente inconsciente, e isso acontece enquanto você está acordado. A fragrância possibilita uma viagem, e essa sensação pode nos proporcionar a capacidade de viajar momentaneamente para determinados lugares, é algo muito poderoso.


Alguns sentidos são muito mais poderosos, o olfato, na verdade, é um sentido muito poderoso. Pensávamos que os humanos só detectavam cerca de 10 mil cheiros distintos, acontece que esse número está mais perto de 1 trilhão.


Tudo começa com pelos minúsculos. Os cheiros que conhecemos não existem, no início são apenas partes de ar, moléculas que entram no nariz. Dentro do nosso nariz temos células chamada cílios, que são feitas do mesmo material do cabelo. Esses cílios tem a capacidade de captar as moléculas de cheiro que estão ao nosso redor. Os cílios direcionam as moléculas de ar para receptores que ficam embaixo do forro nasal.


Existem cerca de 400 tipos de receptores que captam odores diferentes, sendo que o mesmo receptor pode ser ativado por mais de um odor, como uma fechadura com 10 chaves diferentes. Aquilo que você cheirar vai ativar um padrão único de receptores, e eles enviam impulsos elétricos ao cérebro. Pense em cheiro de café, ele é composto de 800 moléculas diferentes - é quando esse mosaico complexo de sinais chega ao cérebro, que o cheiro que já foi sentido, é reconhecido. Algumas pessoas cheiram em números, algumas pessoas cheiram em cores, há pessoas que sentem mais cheiros com texturas.


O olfato é o cara estranho da neurociência. Se você observar como o olfato funciona, pode identificar uma variedade de coisas que só são específicas para o sistema olfativo. As regiões cerebrais às quais o sistema olfativo se conecta são diferentes dos outros sentidos. A maioria dos sentidos é processada por uma parte do cérebro chamada hipotálamo, ele é como um quadro de distribuição, que transmite sinais sensoriais para as outras partes do cérebro, mas por razões que ainda tentamos descobrir, nossos sistemas de cheiro inicialmente ignoram o tálamo e vão direto para o bulbo olfativo, região que se conecta às regiões mais antigas, responsáveis pelas emoções. Isso dá ao olfato uma habilidade especial de criar sentimentos em um nível subconsciente.


Cheiros são viscerais, gostamos de uns e odiamos outros, e essa conexão imediata entre o cheiro e as emoções apontam para a nossa evolução como espécie. Antes, precisávamos de narizes sensíveis para sobreviver, o que reflete no cérebro. O sistema olfativo fala diretamente ao que chamamos de regiões de alto nível, como as amígdalas relacionadas à percepção de ameaças. Nossas amígdalas são capazes de olhar para o mundo e colocá-lo em um contexto emocional, e depois falar com partes do cérebro que ajudam a sentir: "Ei, você está num ambiente seguro, não tenha medo".


Você pode imaginar uma vista, uma paisagem, especialmente de um certo lugar. E se esse lugar for emocional ou pessoal?


Podemos nos transportar ao passado, ao presente ou mesmo para o futuro. Parte da rede pela qual o cheiro se move não é apenas instinto e sentimento, e sim formam uma conexão com o passado. O cérebro guarda todas essas memórias, e você acha que elas se foram, de repente algo acontece ou surge no ambiente e aciona essa memória, assim você pode sentir o cheiro de algo de quando era criança. Todas as memórias do cheiro inicial, sejam elas boas ou ruins, são liberadas e muito disso é por causa das amígdalas, que guardam não só as lembranças negativas, mas também as positivas. Mesmo quando o cérebro muda, lembranças de cheiros permanecem gravadas na memória. Coisas que vimos? Tais lembranças podem sumir em algumas horas . Ainda assim, a visão é o principal sentido que usamos para navegar pelo mundo. Temos uma visão muito melhor do que muitos outros organismos. Vemos uma gama maior de cores, nossa visão é mais aguçada, temos percepção de profundidade e talvez tenhamos uma programação antiga para reagir às imagens. 80% da nossa realidade vem da visão, mesmo que ela não seja tão imediata quanto os outros sentidos, pode ser considerada a mais importante. O que significa que, para nós, quase nada é mais desorientador que se encontrar numa escuridão total. Mesmo assim, é nos momentos que mais nos testam que o real poder do sentido aparece. Quando você dá o primeiro passo para o vazio, você está bem mais preparado do que imagina. Uma das coisas mais notáveis do nosso sistema visual é que nossa retina é capaz de fazer duas coisas diferentes ao mesmo tempo. Um grupo de células, os cones, é ativado na presença de luz e cor. Mas, há outro tipo de célula, que são as células chamadas de bastonetes, específicas para situações em que há menos luz. Os bastonetes propiciam uma visão mais preta e branca, mas ainda possibilitam a percepção de algumas relações espaciais. Por exemplo, você ser capaz de identificar certos objetos afiados ao seu redor. Você pode se imaginar entrando em uma caverna, onde não há luz disponível. Você está na escuridão total, e nesse tipo de cenário, somos incrivelmente bons em ver as coisas. A transição para a visão noturna não é imediata, demora cerca de 30 minutos para a retina se ajustar à escuridão. O cérebro é como um computador e um projetor de cinema ao mesmo tempo, e como qualquer outro sistema vivo, é muito adaptável.


O cérebro é fascinante quando está em uma situação em que não pode ver. Você pode ser colocado no escuro e antes que os receptores visuais possam se adaptar, o cérebro começa a criar imagens de onde as coisas devem estar. Células especializadas dentro do cérebro registram distância, localização, direção e velocidade. Elas iluminam à medida que nos movemos, e se tornam projeções que ajudam a navegar no ambiente, como um GPS interno. Quando fica sobrecarregado, o poder do cérebro pode ficar debilitado. Se as entradas sensoriais estão estranhas, o cérebro tenta organizar as coisas. Você pode acabar experienciando fenômenos "fora da realidade", como sons fantasmas. Quando isso acontece o que resta é tentar absorver menos informação.


Nos últimos 10 anos a ciência começou a estudar meditação, como forma de entender o que acontece quando direcionamos nossos recursos para algo que é gerado internamente. A primeira regra da meditação é tentar não processar nada que vem de fora. O cérebro pode ser treinado para muitas coisas, e controlar os pensamentos pode ajudar a neutralizar desequilíbrios, diminuindo dores crônicas e sofrimentos. É uma das melhores formas de controlar o estresse e de o cérebro funcionar perfeitamente.


Como espécie, vivemos em evolução em vários ambientes ao redor do mundo. Existe uma ilha na Polinésia que ocorre uma alta taxa de pessoas que não veem cores, mas elas conseguem ver muitas texturas que muita gente com "visão normal" não enxerga.


Pode-se usar como argumento em um ambiente rico em flora e fauna, a capacidade de ver e discernir as diferenças de plantas distintas que surgem quando vemos essas diferentes texturas...


O que é uma habilidade?

E o que é uma incapacidade?


O que é genial na sensação humana é que ela aprende conosco, especialmente quando descobrimos como usá-la de uma nova forma. O som é uma coisa linda a qual não prestamos atenção suficiente. O corpo é basicamente uma garrafa de água, e todas essas vibrações estão entrando no seu sistema e deixando marcas por toda parte. As imagens, os sons e sentimentos que encontramos, são absorvidos pelas células do mesmo modo. É tudo eletricidade, sendo assim, não poderíamos sentir o mesmo estímulo de diferentes maneiras?


Nós humanos somos muito adaptáveis. Quando temos uma redução de estímulos sensoriais, o que isso significa em termos de neuroplasticidade e como nossos outros sentidos nos dão ainda mais nuances, eliminar um par de bases no DNA mudaria tudo bruscamente.


Podemos perder parte da visão ao longo da vida, no entanto, a visão é só mais uma entrada para os sentidos, e nós humanos podemos nos adaptar a qualquer tipo de situação. Quando se perde um dos sentidos, dizem que os outros melhoram, mas isso não necessariamente é uma verdade, apenas passamos a dar mais atenção aos demais. Todos estamos aprendendo sobre as habilidades das nossas mentes em se adaptar à entrada de informações que mudam com o tempo. Como exemplo, pessoas que ficaram vendadas por alguns dias, tiveram a capacidade do cérebro de traduzir o som aumentada.


Quanto mais conscientemente usamos as formas alternativas de sentir determinada sensação, melhor nosso cérebro interpreta e utiliza essa sensação, como no caso da música, por exemplo, há muitos níveis para a aproveitar. A maioria das línguas humanas dependem da produção de som, ouvir é importante nesse sentido. É interessante comparar a nossa capacidade de ouvir, com a eficiência do nosso sistema visual, porque a capacidade de ouvir é fraca, perto do sistema visual. Existem outras formas de nos comunicar, como a linguagem corporal. Não se trata apenas de processar os estímulos do ambiente, para que nos ajudem a navegar pelo nosso mundo. A individualidade e a criatividade do nosso cérebro são profundas, mas não são iguais. Cada um de nós tem níveis diferentes de criatividade. A capacidade humana de experimentar o mundo de infinitas formas é algo espantoso, e não é só questão de nos conectarmos às nossas sensações, mas da nossa profunda criatividade como espécie.


Não são só os cinco sentidos, nem só o mundo real que está lá fora. Nossos cérebros são dotados da capacidade de cocriar, e este aspecto da criatividade torna cada um de nós indivíduos muito especiais. Moléculas e luz; vibrações se tornam memórias, pensamentos e invenções. Nossos sentidos não só definem nossa realidade, mas também nos auxiliam a criar mundos totalmente novos, o tempo todo.

 

Fonte: Texto baseado no documentário

CORPO HUMANO: Nosso mundo interior "Sensações", disponível na Netflix.

Imagem via internet


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1 Comment


Guest
Aug 29

Gratidão Aline 🙏

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